Certa vez, eu estava em São Paulo e não conseguia um voo para Porto Alegre. O único que consegui foi uma escala estranha, São Paulo-Salvador-Curitiba-Porto Alegre. Fazer o quê.
Fazia um calor danado e o ar do avião no pátio do aeroporto baiano mal dava conta. Quase na hora de fechar as portas, entraram três baianos com vestes de roda de capoeira, sem camisa, sem sapatos e só com uma calça leve e folgada.. E com berimbau em punho cantaram durante todo o voo para Curitiba, onde fariam uma apresentação.
Quando o avião começou a descer para pousar na capital paranaense, o comandante informou os passageiros que a temperatura era de 7 graus e com vento forte. Não havia fingers naquela época, os passageiros tinham que atravessar todo o pátio de manobras até o check-in.
Eu mal podia esperar para ver a reação dos alegres baianos. Eles se postaram junto à porta.
Quando a comissária abriu a porta, entrou um frio ártico empurrado pelo forte vento. Foi como em um desenho animado. A cantoria e os sorrisos congelaram e eles mal conseguiam se mexer.
Ficaram uns bons 30 segundos sem saber o que fazer até que encararam. Mas a cara deles, nossa, nunca vi tanto sofrimento. O berimbau ficou mudo. Acho que entrou em hibernação.