Um rapaz de boné, sentado duas filas adiante de mim na agência bancária vê um senhor de idade entrar. Cumprimenta-o efusivamente. Eles falam em voz alta de coisas em comum, o senhor falou que ia pagar algumas contas. O rapaz se oferece para pagá-las. Uma velhinha sentada à minha frente abre o bocão.
– Mas o que é isso? Eu e outras pessoas esperando há horas para sermos atendidas e você se oferece para pagar as contas do seu amigo que chegou agora, isso é furar a fila! Mas que falta de respeito, seu moleque!
O idoso ficou vermelho, tartamudeou algumas palavras que ninguém entendeu, depois ficou quieto. A velhinha seguia vociferando.
Durante todo o discurso da mulher o rapaz ficou olhando para ela, na diagonal. Entre uma respirada e outra, ele gentilmente pergunta para que sotaque era aquele que ela tinha.
– Minha família é da Sicília, fique sabendo!
Ele arregala os olhos.
– Nossa, que bacana! Palermo, a senhora conhece Palermo?
A velhinha baixa a voz um pouco.
– Claro que conheço. Estive lá muitas vezes, por sinal.
O rapaz segue amaciando o bife.
– Eu acho a Itália tão bonita, a Sicília também. Não tenho recursos pra ir lá, mas gostaria muito.
Para encurtar o causo, em minutos os dois conversavam animadamente sobre viagens feitas e por fazer. Chegou a vez dela ir aos caixas…
– Tchauzinho, meu rapaz, cuide-se bem, fica com Deus.
Nem olharam para o velhinho, pivô do caso. O rosto dele custou a desavermelhar, digamos assim.