Tenho visto coisas horripilantes em matéria de propaganda. Maioria feitas por amadores e com vídeos em que não se fala, grita-se as vantagens do produto.

É uma herança dos tempos antigos, quando se acreditava que, para a mensagem ser percebida, devia ter volume de machucar os tímpanos. Os mídias das agências – assim eram chamados os publicitários que colocavam os anúncios dos clientes em tal programa e horário nas televisões, jornais e rádios – faziam um esforço para colocar o do cliente entre dois videotapes de baixo volume.
Tipo as sinfonias de Ludwig Beethoven. Um silêncio, depois quebrado por som alto.
As lições de um velho para um jovem
Lembrei de uma passagem de um romance de Jorge Amado dos anos 1950, em que a Salvador de antigamente dava lugar à modernidade. Um publicitário jovem chegou no armarinho de um velho judeu sábio apresentando uma campanha milionária.

O velho homem deu uma olhada em silêncio nos layouts e story boards, tudo regado a nomes em inglês.
– Moço, seu hálito recende a acarajé e uísque, uma sábia mistura sem dúvida. Mas permita que eu lhe diga uma coisa: seu anúncio é uma bosta.
A herança do Uber
Depois de muito viajar de Uber, cheguei a algumas conclusões pétreas sobre os carros que eles usam em Porto Alegre. Viajar nos pequenos já bem rodados no banco de trás é tentativa de assassinato do coccix, sambiqueira, como queiram.
A suspensão gasta e os amortecedores que já deram os doces dão golpes na coluna. Também reservo um capítulo para o cinto de segurança.
Nos carros alemães, o engate é fácil, o cinto estica sem traumas. Já nos franceses, depende da marca, uns são ruins. Assim como os coreanos e japoneses não dão problema.
No entanto, os italianos da Fiat você já entra sabendo que vai ter que tatear para achar onde se faz o engate. Além de ficar quase embaixo da sua bunda, engate fácil não é com ele.

Que me desculpem os revendedores. Mas o campeão negativo é o Uno.
Ontem de tarde viajei em um cujo cinto se recusava a sair da toca. Quando embarquei, apoiei-me na lataria atrás da porta traseira e senti a folha de lata afundar. Credo!
Os supermercados da capital gaúcha
Tenho saudades do tempo em que supermercados tinham concorrentes. Hoje o Zaffari domina tudo. E ele que me desculpe, já foi bem melhor.
As frutas, que sempre foram seu forte, hoje têm que ser examinadas bem de perto. E, não raro, desiste-se, a quitanda da esquina as têm melhores.

Quando o Nacional foi comprado pelos portugueses do Sonae, ensaiou uma ofensiva para, pelo menos, equiparar-se ao Zaffari, graças ao diretor Sérgio Maia, um angolano que deixou saudades.
Pelo menos tentou. O do Praia de Belas era meu preferido.

Por ordem da matriz em Portugal, o Sonae desistiu do Brasil. Então, o Wal-Mart comprou a rede. Não teve bom resultado.
Então, se não tem tu, vai tu mesmo. Ficamos reféns dos italianos. Talvez seja porque a Capital não tem mais a renda per capita de antigamente.
Parece que tem alguns catarinenses interessantes. Mas preferem ficar na periferia ou cidades da Região Metropolitana.
“Hoje, o vivente tem que se virar mais que minhoca em terra quente.”
Pensamento do Dias