Antes de Porto Alegre entrar na vala comum do bastantão, o Centro de Porto Alegre parecia um Sonrisal de tanto que fervia. Tudo girava em torno dele, e o único bairro relativamente independente era o 4º Distrito, com suas festas e promoções de datas festivas próprias. E aí chegamos nas comidas do Centro.

Não existia essa miríade de bufês como hoje, parte da população ainda saía do emprego, almoçava em casa e depois voltava. Aos que não podiam ou não queriam, a área central oferecia vários restaurantes com prato do dia ou à la carte.
Que serviam comida a quilo com atendimento feito por um atendente, havia dois locais mais em conta. Uma delas, a Praiana, na Andradas perto da General Câmara, é pouco antes a Padaria Matheus, com o proprietário cheio de pulseiras e outros adereços metálicos. Foi apelidado de Kid Berloque.
O cliente escolhia as comidas que eram postas no prato, bem como escolhia as quantidades, pouco mais ou menos de feijão, massa etc. O invulgar é que a “comida a quilo” mesmo era usada para clientes de primeira viagem.
Já para os assíduos funcionava sem balança. Ajudava se o pedido viesse com uma gorjeta. Dois ou três pilas operam o milagre da multiplicação das porções.
Na Travessa Acelino de Carvalho a Spaghettilândia era muito frequentada. Bebia-se refrigerantes da Minuano (da Vontobel), copo de vinho (muito consumido era o clarete) ou um copo de leite, muito em voga então.
O Dona Maria era uma mistura de bar e restaurante. No Mercado Público, Trevisan. Gambrinus, Naval e Guaraxaim.
Na Riachuelo havia as churrascarias Hereford e Angus, do João Klee. Na subida da Otávio Rocha, a Churrascaria Quero-Quero e o Restaurante Napoleão, do mesmo dono, o grego Napoleon Kristakis. Comia- se bem em ambos.
Restaurantes de hotéis não tinham muitos clientes. Geralmente, caros e com poucas opções. Para o povão, as bancas da volta do Mercado. No geral, mocotó era servido nas quartas e feijoada às sextas.
À noite, era mais complicado, poucas casas abertas e só até 20h ou 21h. Havia pequenos tesouros escondidos, como a Big Bem, na esquina da Marechal Floriano com Otávio Rocha, que servia a melhor empada de frango do Universo conhecido. Perto da Renner; outro bom de lanches rápidos era o Liliput original.
No mais, nos bar-chopes o lanche mais atrativo era o sanduíche aberto. Foi por esta época que surgiu o bauru, hoje substituído pelos burguer. Não é a mesma coisa. Cheira a comida que se come depressa e tão cheio de penduricalhos nada a ver, que parecem uma bomba prestes a explodir.