O falecimento do DJ Claudinho Pereira, um dos pioneiros da Porto Alegre que sumiu para sempre, fez-me lembrar como eram aqueles tempos, na segunda metade dos anos 1960. Em 1966, o então prefeito Célio Marques Fernandes entendeu tirar os bondes da avenida.
Mas era o PROGRÉSSIO chegando, como cantavam os Demônio da Garoa. Tiraram o canteiro central e os jerivás e palmeiras e o asfalto tomou conta, ladeado por imponentes mansões dos dois lados. Os mais bonitos eram de médicos.
Enquanto as formigas trabalhavam, as cigarras dançavam. A boates de dançar separado começaram a surgir, como o Crazy Rabbit do Carlos Heitor Azevedo, na rua Garibaldi. No lado oposto havia uma casa noturna do compositor Rubens Santos, que pedia que os que gostassem das músicas não aplaudissem, que estalassem os dedos para não incomodar os vizinhos.
Mais adiante, depois da Santo Antônio, a Tia Dulce com sua sopa de cebola de levantar defunto borracha acolhia generosamente as gentes da noite antes de dormir. No porão, a casa de tangos do Rúben Val, a quem certa vez irritei porque pedi um tango que não terminasse com TCHAN-TCHAN!.
Eram noites boas para todos durante um certo tempo menos para os amores fugidios. É difícil segurar um muçum ensaboado. Por isso eram constantes as brigas, metade por ciúmes, outra metade por cafajestes e testosterona transbordando. Com os leões de chácara apartando lá dentro a briga se dava no meio da rua de uma cidade que só tinha 40 mil automóveis.
Os bar-chopes eram refúgios de rodas fixas. Dois despontaram, o Styllo Bar na esquina com a Garibaldi e o Rubaiyat, uma quadra adiante, que teve vida breve, tinha defeito de nascença. No Styllo, às vezes o gerente Zé deixava a chave com eles e ia embora depois de servir a saideira. Que remédio, o negócio era fechar a madrugada na Tia Dulce.
Certa feita, um dos frequentadores pediu carona para alguém da roda, que tinha um barulhento DKW, que fez o trajeto de ré. Mas essa já é outra história.