Não existe dor tão profunda para os saudosistas que voltar, décadas depois, à pequena vila ou cidade que nasceram. Então, ver todas as recordações guardadas em uma gaveta específica da memória visual dilapidadas, mudadas, destruídas por aquilo que se chama progresso.
Aquele riachinho que sumiu ou está poluído, a vegetação ciliar, as grandes árvores que contemplavam seus sobrinhos, as casas de madeira que foram substituídas por outras. Os pequenos potreiros e quintais subjugados por prédios modernos sem graça.
As flores nos peitoris das janelas, os fornos à lenha no pátio, o paiol com vacas de leite e na parte de cima forragem para as vacas que dormiam no paiol. Os instrumentos da lavoura encostados nas paredes, enxada, pás, plantadoras manuais de milho ou feijão, a estradinha de chão batido substituído pelo asfalto e depois com quebra-molas.
Na memória auditiva, o cantar dos pássaros, o chiado das carroças puxadas por parelha de bois e o colono dando ordens de mudar a direção como “Haar!” e “Hôôi!”, para a direita e para a esquerda, nas colônias alemãs. Um que outro “muuu” dos bois e vacas no pasto. O silêncio só quebrado pela passagem de um automóvel ou caminhão duas ou três vezes por dia, o grito das mães ralhando com as crianças desobedientes. Junte tudo isso numa sinfonia tendo ao fundo a paisagem acima e entenderá por que estes desaparecimentos doem na alma.