Solidão/Solidão/Danço eu/Danço você/Na dança da solidão. Estes versos são do compositor Paulinho da Viola, um dos melhores da MPB nos últimos tempos. Exatamente porque deste mal padece uma boa parte da humanidade, talvez a maior parte.
Certo ano-novo, na metade dos 1960, olhei para o garçom do Restaurante Treviso do Mercado Público de Porto Alegre. Só estávamos nós dois no recinto. O foguetório lá fora, zero gente nas ruas, os paralelepípedos brilhavam sem o incômodo dos carros, alinhados como doces de confeitaria.

Foi uma coisa assim de repente. Como Carolina na janela, fui vendo a banda passar. Recebi mas não respondi os convites dos amigos e casais, e quando dei por mim era meia-noite.
Nunca fui muito de festejar a virada do ano e nem de participar de festas na virada. Mas desta vez doeu um pouco. Meus pais moravam em Montenegro, eu era bancário, e fiquei na Capital.
Para mim, muitas destas festas mostram os guizos falsos da alegria. Pessimista? Não, realista.
O papel do vago
Em algum momento da minha vida, meu nervo vago deve ter sido estraçalhado. O nervo vago controla funções involuntárias do corpo. E, uma vez que contém tanto fibras sensoriais como motoras, é responsável por sensações e por movimentos e gere funções corporais como ritmo cardíaco e pressão arterial.

A maioria dos médicos desconhece ou não se lembra dele. Apesar da sua enorme importância para o corpo e mente.
Fiquei sabendo dele por acaso. Nos anos 1970, eu estava em Florianópolis e um amigo executivo me convidou para jantar.
Lá pelas tantas, eu contei algo que era para ser engraçado. Mas meu amigo nem sorriso esboçou.
Estranhei. Então me contou que não tinha o nervo vago. Surgiu uma complicação qualquer e ele descobriu que o dele estava estilhaçado. O pai dele era médico, então sabia do que falava.

Aí fico pensando quantas pessoas que não têm nenhuma emoção e carecem de alegrias, mesmo das alegrias das pequenas coisas sabem disso. Eu mesmo nunca encontrei um médico que me dissesse ou tivesse levado o vago em conta. São buracos negros da profissão.
“Era uma mulher muito estranha. Não tinha nenhuma tatuagem.”
Pensamento do Dias