Pego uma laranja e a descasco com faca sem acidentes de percurso. Consigo essa façanha após uma vida inteira descascando laranjas, como o pianista do filme Feitiço do Tempo. Não posso garantir que consiga fazer o mesmo com um abacaxi, por isso nem tento. Frutas são coisas esquisitas, do ponto de vista logístico. Chego a pensar que a natureza nos sacaneou em boa parte delas.
Imagem: Freepik
Se a natureza fosse perfeita, como dizem – uma grande bobagem, por sinal – melancia vinha com alça e o abacaxi viria em gomos, como na bergamota (mexerica). A minha expertise de descascamento de laranjas levou décadas para ser aperfeiçoada. Lembro quando eu era piá, a consternação que eu sentia quando a casca caia no chão após uma ou duas rodadas da faca.
Um famoso criminalista de Porto Alegre usava a técnica da laranja para distrair os jurados. Enquanto o promotor perorava, ele se punha a descascar lentamente uma laranja de umbigo, operação que ele fazia em um ângulo que os jurados podiam ver. E o advogado era tão bom criminalista quanto descascador, nunca deixava cair a peteca, ou a casca. E o promotor falava para poucos porque os jurados estavam esperando a interrupção do corte. Nunca aconteceu.
De onde se conclui que, para ser um bom advogado criminalista, descascar laranja com perfeição pode ser uma boa estratégia na defesa de réus.
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