Antes do advento do computador, escrevia-se em laudas, que facilitavam a diagramação, folhas de papel jornal com 25 linhas verticais e 20 horizontais nas quais se datilografava os textos. Como tudo tinha que ser vapt-vupt, os próprios repórteres as corrigiam com caneta Bic abrindo duas alças em cima das letras com a correção. A turma da composição e antes os linotipistas que se virassem.
As máquinas de escrever merecem um filme. Mesmo maltratadas cumpriam sua função e em geral havia menos delas do que eram necessárias. Como a borracha era muito usada, os farelinhos caíam entre as hastes acabando por tornar pesado o ato de escrever.
Os buraquinhos nas letras como “a”, “b”, “o” e “p” ficavam cheios de detritos e era preciso limpá-los com uma massinha grudenta. O duro era trocar a fita de escrever, tarefa ingrata. Quando se gritava para um boy: “troca minha fita”, eles sumiram como num passe de mágica.
Finda a tarefa, os dedos ficavam sujos de tinta preta e vermelhas que não saíam com sabonete comum. Sim, fomos heróis da limpeza até a chegada das telas.
Perder uma lauda com texto era um horror, ter que refazer tudo era de enlouquecer. Nas agências de propaganda, ocorria o mesmo.
Lembro de uma história contada pelo publicitário Ernani Behs. Levou horas para criar um texto perfeito e bastou virar as costas para que seu filho Rafael o usasse para assoar o nariz. Às vezes, usava-se carbono e obtinha-se duas, três e até quadro cópias.
Fui campeão nisso quando pauteiro da Folha da Manhã, uma cópia para cada editoria. Meu recorde foram sete cópias. Para marcar os textos, era preciso esmurrar as teclas. A vantagem é que o sistema não caía e se prescindia de energia elétrica, até que chegaram as IBMs.
Por aqueles anos, aconteceu uma história envolvendo incêndio no Frigorífico Cicade, de Bagé. O correspondente ligou para dar a informação, mas disse a ele que um incêndio – ainda mais aquele incêndio – deveria ter uma fotografia. Ele que tratasse de enviar logo pelo motorista do ônibus que saía de Bagé às 17h. Isso para dar tempo e não atrasar o fechamento da edição. Passavam das 23 horas quando um esbaforido motorista da ZH voltou da Rodoviária com a encomenda.
Nela, uma foto de um caminhão de bombeiros e uma lauda com a legenda. “Na foto, um caminhão dos bombeiros igual ao que combateu o incêndio no frigorífico.” Olhei a mensagem estupefato, e pensei em viajar para Bagé e matar o correspondente. Tinha certeza que, se fosse a júri, o promotor pediria minha absolvição.