Nem todos têm uma passagem de ano alegre e acompanhada de familiares e amigos. Para uma boa parte, não há motivos para se alegrar.
Eu tive a minha cota nos idos dos anos 1960, antes de ser jornalista. Trabalhava em um banco, o Província, e morava em um apartamento no segundo andar na Duque de Caxias, 533, no Alto da Bronze.
Era comum, naqueles tempos, colegas de trabalho ou de amigos de cidades de origem rachar o aluguel, que era caro para alguém que ganhasse pouco, o que era meu caso. Sucedeu que todos foram passar o Ano-Novo nas cidades de onde vieram, então fiquei solito no más.
Nunca fui muito de festas ruidosas, comuns em clubes sociais ou nas famílias na cidade ou nas praias. Quem não fosse sócio de clube social e soubesse dançar bem baixava a autoestima barbaridade. Ainda mais vendo amigos e colegas falando de como festejaram, com ou sem namorada, mas com chances de atracar em uma.
Nos dias anteriores ao 31, recebi convites de amigos casados: Vem passar o Ano-Novo aqui e coisa e tal. Marquei bobeira e, no fim, não fui a nenhuma.
Não quis viajar para a cidade onde moravam meus pais. Então, eu era um solitário da cidade grande como os retratados nas telas do pintor americano Edward Hopper.
Dormir cedo não era opção. Fui ao único lugar aberto de Porto Alegre, o restaurante Treviso, no Mercado Público. Pedi uma cerveja, só estavam lá eu e um garçom, toalha branca pendurada no antebraço, paletó branco e calça preta. Na hora do foguetório, levantei o copo em saudação, e ele respondeu com um aceno com a cabeça.
Pensei que não era justo abrir o ano desse jeito. Mas, no fundo, fora incompetência minha.
Pelo menos, pensei com meus botões, eu era novo e teria muitos anos novos cheios de risos e alegria. Fui para meu humilde tugúrio e levei horas para pegar no sono, olhos pregados no teto.
No ano seguinte, tive ótimas notícias. Mas essa já é outra história.