Uma das artistas mais inovadoras e visionárias da música contemporânea, Björk, atravessa uma fase de radiografia pessoal. Quando estive lá é que soube, porque alguém surpreso em ver um brasuca por lá me contou que ela estava tentando incluir o Brasil em sua nova turnê, que eu nunca soube se aconteceu.
O álbum tratava de corações partidos: ela se divorciou de Matthew Barney, com quem era casada desde 2001. Diz ela: “Venho da Islândia, lá não temos uma história semelhante à da Europa. Só nos tornamos independentes há 70 anos. Não vivemos a revolução industrial, não tivemos guerras. E, de repente, nos vimos no meio da nova ordem tecnológica. Isso nos tornou mais sinceros, mais abertos”.
“O novo disco Vulnícura, é parte desse processo. Para a exposição no MoMA, reuniram coisas sobre mim que acabaram me iluminando. Busco estabelecer essa relação harmoniosa entre a natureza humana e a vida animal. É também um processo de celebração, de otimismo, de fé no futuro”.
Bem, até aqui extraí os dados de uma entrevista do New York Times. Os restantes são de apreciações minhas de uma viagem que gostei muito de fazer. O país tem vulcões permanentes, Geisers (é de lá o nome original), tempestades, geleiras e praias de areias negras. Temos sempre a ideia de um renascimento de mundo. Não é por nada que Júlio Verne colocou na Islândia a entrada da gruta que o teria levado ao centro da terra.
Hoje você vai, ou pode ir à Islândia, como você vai a qualquer lugar, mas não era assim. Ela continua lá, beirando círculo polar, mas integrada no mundo atual, seja na música, seja nos hábitos do Norte da Europa, seja pelo admirável adestramento de seus cavalos, que saem da ilha para provas, ou exposições, e não podem mais voltar, por lei.

Os cavalos que falo – sem entender de cavalos – são os “crioulos” deles, que foram levados pelos vikings há 900 anos, depois chegaram os monges que procuraram povoar a Islândia devido à energia geotérmica que aquece várias partes da ilha. Com isto trabalhavam menos, ou seja, cortavam menos lenha, levavam menos tempo para preparar a sua comida e assim tinham mais tempo para se dedicar às orações.
Mas algo foi dando errado e os monges devem ter enchido o saco de só orações e, aos poucos, foram voltando para a parte continental da Europa, de onde haviam saído. Mas deixaram os cavalos que se tornaram selvagens como os nossos crioulos e ali viveram sem nenhum apoio por quase 700 anos. Consequentemente, mais rijos, mais fortes, atarracados e com o pelo mais longo. É bem provável que, no inverno, se agrupassem perto das regiões geotermais, que são muitas, e com isso podiam continuar pastando. Com a neve que cai ali, não teriam como chegar ao pasto que fica um metro abaixo da neve. Morreriam de fome.
São, a meu ver, dignos primos dos nossos “crioulos”, dos cavalos patagônicos e exemplificados pelo Gato e o Mancha que foram criados na fazenda do Dr. Solanet, na Patagônia. E levaram em seu dorso um médico suíço do nome complicado. Saíram do sul da Argentina e foram a Nova York levando dois anos e meio, sendo reconhecidos e recompensados com uma verdadeira parada que interrompeu o trânsito em plena 5ª Avenida. Isto em 1939 ou 1940.
P.S.: Já que falamos em música, a Zero Hora publicou que o Vitor Ramil foi traduzido para o islandês e será lançado no dia 5 de março em Reykjavik. No dia seguinte, o músico e escritor fará um show na capital da Islândia. Boa Vitor, sucesso!
*Vitor, se faltar alguém para carregar a tralha é só avisar.