Uma placa comemorativa à mais uma etapa da revitalização de espaços do Centro Cultural do Shopping Total – a recuperação das caldeiras da antiga cervejaria da Brahma – foi descerrada na cantina Famiglia Facin, que fica na entrada de um dos túneis. Esse é um dos orgulhos do chefão do Total, Eduardo Oltramari.
Nesta ocasião o Oltramari fez questão de salientar que eu sou o pai da reabertura dos túneis. Ele sempre tem dito isso quando acontece algum evento relacionado a eles, o que muito me envaidece. A verdade é que fui mesmo.
Deu-se assim. Há coisa de 11 anos, quando o Total ainda estava em reformas, o Oltramari me mostrou os túneis soterrados – para quem não sabe, presume-se que eles tenham cerca de 4Km de extensão – dizendo que não sabia o que fazer com eles. Datavam do início do século XX, supõe-se. Eu disse que talvez desse samba. Na mesma hora liguei para Caio Zanotto, presidente da Vinícola Aurora.
O Caio e eu tínhamos conversado sobre a Aurora abrir uma cave com produtos da Aurora, aquela coisa medieval de archotes etc. Ele achou a ideia sensacional. Na mesma hora liguei para ele, os dois se relincharam, como se diz na Fronteira, o contrato foi fechado.
Só que a Grande Ceifadora entrou em ação. O meu amigo Caio morreu naquele acidente da TAM em Congonhas e seu sucessor não quis ou não soube levar o assunto adiante. Felizmente, a Famiglia Facin achou que poderia. Estão lá, felizes e satisfeitos, casa sempre cheia.
Assim foi. E aproveito para dizer que tem muito túnel a ser reaberto. Um dos braços vai quase até a Ramiro Barcelos e outro ruma ao cais, no Guaíba. Há muitas fantasias sobre a serventia dos túneis, inclusive que seriam rota de fuga. Por mim, aplico a lógica da Lâmina de Occam, um frade da Idade Média: quando o problema é complexo, a explicação é a mais simples.
E a mais simples é: serviam para estocar matéria prima, garrafas de cerveja.