O Alfaiate estava sempre nas imediações da Praça da Alfândega, ele, sua cartola, guarda-chuva longo e um terno repleto de pedaços de cartolina colados ou costurados, com frases ou palavras ininteligíveis, típicas de pessoas com transtornos mentais. Mas era pacífico, ficava ali vendo a banda passar. Quando me via ao longe ia direto ao meu encontro.
– Dá cinco pila pro cafezinho.
O cafezinho custava nem dois na época, mas vá lá. Outra técnica dele era uma pergunta à queima roupa.
– Délio Jardim de Matos, jornalista, quem foi?
– Ministro da Aeronáutica do governo João Batista Figueiredo.
– Garoto esperto. Me dá cinco pila.
Certo dia, estava de saco cheio e nem um pouco disposto a conversar com o Alfaiate. Vinha da estacionamento do Theatro São Pedro desci pelo Rua da Praia Shopping aproando a Borges. Me alcançou na Rua da ladeira.
– Não vem que não tem, Alfaiate. Estou sem dinheiro, até vou ao banco. Na volta falamos.
Imperturbável, ele apontou para trás dele com o polegar.
– Teu banco fica pra lá. Cinco pila.
Pior que era verdade.