Com ou sem marqueteiro, eleição sem cabo eleitoral não é eleição. São indispensáveis, e um bom vale ouro, especialmente em eleições regionais. Nos anos 70 conheci um chamado Oswino, que conhecia tudo e todos ao longo das rodovias que levavam ao Interior. Certa vez viajei com ele ao longo da BR-386 e fiquei espantado. Não tinha posto, borracharia, restaurante fino ou pé-sujo em que ele não conhecesse o dono, o garçom, a faxineira. Mais ainda, sabia dos filhos, quem estava na faculdade, quem casou ou ficou viúvo. Mas também há cabos eleitorais, digamos, excêntricos.
Eleições de 2003. Após almoço em restaurante do Shopping Total, eu e outros colegas e executivos fomos abordados no estacionamento por um senhor borracho. Veio em nossa direção como ir de Porto Alegre a Caxias do Sul via Uruguaiana. Antecedeu-o um bafo de cachaça de matar onça em uma só respirada.
Depois de várias tentativas fracassadas, puxou do bolso de trás da calça três santinhos de candidatos, agrupados como cartas de baralho. Como ele conseguiu tirar uma grana dos três ao mesmo tempo é um mistério. Dedo em riste, um olho fechado para dar condições de foco para o outro, passou a dar a ficha técnica de cada um. Isso naturalmente levou um bom tempo, porque ia e voltava na peroração.
Às vezes ele misturava o currículo de um e outro, presumo que para manter a dignidade e o equilíbrio ao mesmo tempo. Naquelas condições é um dos 12 trabalho de Hércules.
De repente sua voz falhou, entrou em ritmo de câmara lentíssima. Virou os três santinhos agrupados, coçou a orelha – imagino que tenha mirado o cocuruto – e falou sem hesitação, voz quase firme apontando o candidato do meio.
– Pensando bem, esse não recomendo. É um ladrão! Tem toda pinta!
Como não sou lá muito adepto da teoria do doutor Cesare Lombroso, salvo em alguns casos de julgamento de caráter, e mesmo assim depois de 10 minutos de papo, fiquei na dúvida. Pela teoria das probabilidades, pelo menos um deles se enquadrava na definição.