Há coisa de meio ano fui ao Pizzaiolo, cujo cardápio tem uma pizza que homenageia a página 3 que edito no Jornal do Comércio, Começo de Conversa. Até foi criação minha. Não é nada demais, tomate, presunto e lombo canadense, mas tudo em doses generosas menos o tomate. Foi aí que encontrei o surdinho.
Quando atravesso o corredor da Churrascaria Barranco para pegar o carro no estacionamento, deparo-me com dois veteranos jornalistas gaúchos. Um deles era o Carlos Bastos, que é do tempo da galena e das filmadoras B&H, usadas na invasão da Normandia em 1944. Parei para uma breve conversa.
O outro jornalista parecia não entender o que eu falava, porque eu dizia capital e ele entendia cabedal, disse honorários e ele me perguntou o que bancários tinham a ver com o papo, e assim em diante. Passei a falar mais alto, porque obviamente o meu amigo era surdo.
– Fala alto, porque ele tá completamente surdo – gritou o Bastos.
Respondi usando o mesmo volume de voz que ele usou, quase gritando.
– Ele sempre foi surdo, só que agora piorou muito.
O Bastos botou a mão em concha na orelha.
– Hein?