Com dois aparelhos de medir a pressão arterial à frente, do alto dos seus 80 e poucos anos, o Jayme me olhou de uma forma esquisita, como se estivesse examinando um vivente com potencial para o ás de necrotério.
– Você realmente sabe se sua pressão é normal? Vou medir a minha com esse aparelho alemão. É o último grito.
Então colocou a tal maravilha alemã no pulso e a ligou.
– Sei que tu estás pensando, que tem que ser no antebraço, né? Não esse. É eletrônico, não precisa ser calibrado, à prova de falhas…
Olhei o bicho com reverência enquanto os números começaram a aparecer no visor.
-…não é como os manuais, aqueles de apertar na bombinha, olha só, 18 por 8… Mas como… Espera. Tá avisando aqui que a pilha tá fraca. Logo agora que ia medir a tua.
Abriu o milagre alemão e tirou duas pilhas palito.
– Então bota pilhas novas, ora!
Jayme coçou a cabeça, desenxabido.
– Deixei a carteira em casa, documentos, dinheiro, tudo. Se um azulzinho me parasse, ia dar cocô de elefante. Mas não há de ser nada, vou medir com o aparelho clássico, o da bombinha manual.
Levou uns bons minutos para que ele desenrolasse tubos, cabos. Para meu espanto, pegou um rolo de fita crepe e passou a enrolar os cabos e tubos, tão velhos que deveriam ser da época da Revolução de 1930. Acho até que mediu a pressão do doutor Getúlio.
O meu amigo é rico.
– Tá como novo, não te impressiona. É que escapa ar dos tubos – espera um pouco, deixa eu botar fita na conexão da bombinha…. Bosta!… A fita não pegou direito!
Gastou uns dois metros de fita crepe. Agradeci o esforço. Saí da sala convicto que se tratava de produto fabricado em Burkina Faso, usando peças variadas que sobraram da Batalha de Stalingrado na II Guerra Mundial e montado na Bolívia, décadas depois, por um ambulante que não ambula.