O Gnu caminhava com seu bando pela savana quando cruzou com a Gazela em sentido contrário. Estranhou, porque as chuvas que deixavam o pasto verdejante estavam à frente e não atrás, no opressivo e seco deserto do Seringhetti.
– Ainda que mal lhe pergunte, para onde você vai, moçoila imprudente? O deserto está mais seco que boca de fogão a lenha. O vale verde está na direção que vou.
– Sei disso, senhor Gnu – respondeu a Gazela saltitando. – Mas sempre tem um pouco de pasto e, eis a melhor parte, não tem concorrência. Todos estão indo para o mesmo lado que o senhor.
– Que coisa mais ridícula! Mas a vida é sua, porque os predadores a localizarão facilmente no Seringhetti sem vegetação para lhe dar cobertura. Até o ano que vem.
A Gazela nada falou e seguiu seu rumo. Algum tempo depois o Gnu e toda sua família foram devorados por crocodilos quando foram atravessar o rio. Os sobreviventes caíram nas garras dos leões, guepardos e hienas. Não havia predadores no deserto.
Moral da história à Tancredo Neves: esperteza, quando é muita, come o dono.