Entre as várias profissões que desapareceram com os tempos modernos está a de vendedor de carros usados que os buscava em São Paulo ou Rio de Janeiro para revendê-los no interior do Rio Grande do Sul. As cegonheiras não existiam na época. Pelo menos não no formato e tamanho que conhecemos hoje.
O negócio funcionava assim: depois de receber avisos de parceiros paulistas ou cariocas, o cabra se mandava de ônibus da Viação Cometa e trazia os veículos rodando.
O interessante era que nunca vinha Fusca – ou Fuca, na gíria dos anos 1960. Os mercados de lá absorviam imediatamente os carros de segunda mão, hoje pomposamente chamados de seminovos. Eu preferiria semivelhos. É como um copo meio cheio ou meio vazio.
Os modelos preferidos eram os “grandes”, Simca, Aero Willys. O mais procurado era o francês montado no Brasil, com um motor raquítico de 85/90 HP, apesar dos oito cilindros.
O que tornava o Simca interessante era o ronco do motor, com aquelas borbulhas típicas dos motores V8. Um popular 1.0 de hoje vai de zero a 100 Km/h mais depressa que o Simca. Mas era confortável e a suspensão MacPherson era muito eficiente e a mais simples, braço transversal, amortecedor, mola helicoidal e barra estabilizadora..
A margem de lucro era grande. Mesmo que fosse carioca, os buscadores de carros diziam que era paulista.
O gaúcho nunca gostou de “carro de praia” por causa da ferrugem. Isso só melhorou quando o aço siderúrgico passou a receber uma dose de óleo de palma, o segundo mais vendido no mundo que vem a ser o nosso conhecido dendê.