A burocracia brasileira conseguiu e ainda consegue despautérios em tal quantidade que explicam porque não somos invadidos por seres mais inteligentes de outras galáxias. Uma delas me deu um emprego de 30 segundos. Foi lá por 1978, quando de vez em quando eu era requisitado para ser ator de comercial de televisão.
Deu-se que o Ministério da Agricultura baixou uma portaria ou coisa parecida proibindo salsichão de ser chamado de salsichão e sim de linguiça camponesa, sabe-se lá porque cargas d’água. Devia ser uma dessas medidas que só fazem sentido para os sacerdotes da ultraburocracia. O Frigorífico Costi, se não me falha a memória, encarregou a agência de fazer um comercial em que o personagem dizia que salsichão era salsichão mesmo que fosse uma linguiça camponesa.
Minha fala era simples. Eu mostrava uma embalagem do produto e enfatizava várias vezes que a linguiça camponesa Costi era a melhor do mercado. No finalzinho do comercial, eu saia de quadro por alguns segundos e voltava para a frase final, dita com a palma da mão na boca como se confidência fosse:
– “É linguiça camponesa, mas pode me chamar de salsichão”.
Sonho em ver um comercial pegando algum tema do politicamente correto que abunda neste país que tivesse uma frase final parafraseando a do meu comercial