“…o pior, doutor, é que eu também fui ficando verde”
A propósito do alarmismo em torno da febre amarela: na década de 50, estava de plantão no Hospital Veterinário da Faculdade de Agronomia da Ufrgs o falecido professor José Jardim Freire, um dos maiores nomes da parasitologia brasileira. Ele contava que certo dia alguém ligou para o hospital perguntando se os veterinários poderiam ir ver o que estava acontecendo com seu cavalo. Freire disse que, a princípio não, que eles atendiam animais no próprio hospital, a não ser que fosse uma doença excepcional. O cara então disse que sim, era uma doença fora do normal, que nunca havia visto algo semelhante. – Meu cavalo está ficando verde. Estupefato, Freire pediu maiores detalhes. – É, verde. Começou no lombo. Aquele esverdeado foi ficando cada vez mais forte, depois pegou a cabeça e até a cola. O veterinário se interessou de vez no caso. – Mas como foi acontecer? O senhor deu a ele algum remédio, alguma comida diferente? – Não, tudo normal. Mas o pior, doutor, o pior é que eu também comecei a ficar da mesma cor. Eu estou sempre montado no bicho, e acho que ele passou a praga para mim. Estou todo verde também, juro! Aí a atenção de Freire foi total. Pegou papel e caneta e pediu o endereço, que ele iria em seguida visitá-lo. – Pois não, doutor. Anota aí: meu nome é Marechal Deodoro da Fonseca e o endereço é a parte central da Praça da Alfândega. Durou um segundo para cair a ficha do professor e perceber o trote cavalar do qual foi vítima