O João Nadir soube que um velho conhecido tinha morrido. Homem de respeito, amigo dos seus amigos, uma joia de pessoa, contou ele falando o dialeto uruguaiananês mesmo tendo saído da cidade da fronteira há mais de 30 anos. O finado era daqueles que se desdobrava para ajudar os outros, portanto, todo mundo pranteou sua ida para a cobertura.
O porém de sempre é que a família descobriu que ele tinha e mantinha uma rapariga desde sempre, segredo muito bem guardado, coisa difícil. Dias depois do acontecido, João Nadir encontrou o filho dele.
– Veja só, meu caro, depois que papai morreu descobri que tenho duas mães – falou ele em tom ácido. – Isso é coisa que se faça com um vivente?
João Nadir entrou de sola.
– Tens que levar pelo lado positivo. Veja só: tem tanta gente desesperado por não ter mãe e tu tens duas!
Num primeiro momento o outro fez aquela cara de “não acredito!”. Depois mudou de assunto, o felizardo, segundo o doutor Pangloss na Fronteira.