“…O dono da Caldas Júnior chamou o Editor Chefe e explicou o assunto…”
Anos 1970. Um amigo do então todo poderoso jornalista Breno Caldas pediu que desse uma chance para seu filho, que seria um hábil tecelão das palavras e queria trabalhar no Correio do Povo. O dono da Caldas Júnior chamou o Editor Chefe e explicou o assunto. Faça um teste, dê-lhe uma pauta simples, disse o doutor Breno ao subordinado, veja se ele é bom mesmo, se tem vocação para repórter. Se não for não se acanhe, direi ao pai que infelizmente não vai dar.
Uma chatice atender pedidos desse tipo, mas ordem é ordem. No dia seguinte veio procura-lo um sujeito já maduro, pinta de intelectual, óculos redondos com armação preta, voz grave e terno escuro. Pensou na pauta que daria ao candidato a jornalista do róseo, apelido do Correião à época, por causa da cor do papel usado na impressão. Como fazia um calor de época, então o editor deu ao candidato uma tarefa bem simples.
– Vá até as bancas do Abrigo dos Bondes e pergunte a algumas apenas se eles estão vendendo mais refrigerantes que o normal.
Até uma criança de oito anos seria capaz de cumprir a tarefa. Com ar solene e voz grave, o filho do amigo do doutor fez um pedido.
– Por favor, preciso de pelo dois blocos de laudas.
Lauda era uma folha de papel com marcação para a diagramação, usada no tempo das máquinas de escrever. Um bloco costumava ter 100. O editor ficou perplexo. Uma matéria tão simples ocuparia não mais que três ou quatro laudas, o que diabos o cara queria com 200 folhas de papel?
– E preciso de alguns dias para redigir a matéria.
Mais uma perplexidade. Enfim, seja o que Deus quiser. O sujeito voltou dias depois, quanto a temperatura já tinha voltado ao normal, sobraçando pelo menos umas 100 laudas datilografadas. Desconsolado, porque teria que ler o calhamaço todo para dar satisfações ao doutor Breno, começou a primeira. Não tinha nem lido uma linha inteira quando se rosto se iluminou. Como previsto, o candidato a repórter era um desastre jornalístico ambulante, e o patrão entenderia perfeitamente o motivo. A primeira palavra grafada daquele livro permitia esse juízo:
– Porém…