Sentado na Mesa Um do Restaurante Dona Maria, o sábio (e cínico) Barão de Hinenstall und Holen-Holen já dizia nos anos 1980 que o Brasil era o país das oportunidades mais democráticas que ele conhecia. Veja, filosofava o nobre alemão pertencente à Ordem dos Cavaleiros Imatruf, veja o caso dos afanos, que na época não eram tantos assim.
Entre um gole e outro do plebeu schnapps 51, posto que falido estava, o Barão passou a contar nos dedos os golpistas que começaram vendendo bugigangas na rua ou leques em bordéis ou eram humildes candidatos a vereador que mais tarde se tornaram escroques de primeira grandeza. Alguns até internacionais, repetia franzindo o cenho chamuscado pela longa chama do isqueiro Zipo que acendia sua cigarrilha.
Os vigaristas, alertava ele, tanto podem começar sua carreira nas favelas quanto em mansões luxuosas ou até mesmo sendo lideranças de grêmio estudantil. Basta ter força de vontade, perseverança e senso de oportunidade. Uma coisa era certa, falava ele reforçando com o dedo indicador apontado para alguém da roda, nunca confie em caseiro, motorista e ator de teatro. Se eles estiverem na roda, fuja.
No mais, arredondava o nobre alemão, tem que cuidar muito para não ir além da conta. Depois de pagar apenas 30% da conta das sucessivas doses de uísque, apontou o já gasto dedo indicador para o garçom e fez o grand finale.
– Cuidado e tenham humildade ao enveredar por este caminho. E não queiram ganhar demais. Quem nunca comeu mel, quando come, se lambuza.