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O azar do Betinho

O Betinho era um dos melhores repórteres policiais dos anos 60. Só que às vezes, ele se empolgava tanto que misturava as coisas e dava uma de auxiliar de policial. Coisas da época.

Certa madrugada, ele acompanhou uma equipe da Delegacia de Furtos e Roubos numa batida na Vila Bom Jesus. Os policiais buscavam um assaltante linha de frente. Perigoso.

A turma chegou ao barraco onde o cara presumivelmente estava. Uma viatura iluminou a casinha com os faróis e os policiais começaram seu trabalho.

– Saí aí de dentro, cara! E sai com as mãos pra cima!

Silêncio. Nenhum som veio em resposta, nenhuma luz se acendeu.

– Pela última vez, sai agora ou vai bala!

Ainda silêncio.

– Então tá. Tu pediu.

Engatilharam as armas e já iam para o serviço, quando Betinho inchou o peito e berrou:

– Deixa comigo!

Falou e fez. Antes que alguém conseguisse segurá-lo, engrenou uma primeira e se foi em alta velocidade, jogando se contra a porta com tudo.

Desapareceu na escuridão. Passaram-se alguns segundos. Em seguida, veio uma voz estrangulada em algum lugar do outro lado.

– Me tirem daqui!

A turma apressou-se e entrou, temendo o pior. Não tinha nada do outro lado, o barraco tinha apenas a parede frontal, a escuridão camuflava a coisa. Endereço errado. Do outro lado, no que deveriam ser os fundos da casa, havia um valão cheio de merda. E dentro dele, Betinho. Atolado na merda até o pescoço.

Fernando Albrecht

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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