O Betinho era um dos melhores repórteres policiais dos anos 60. Só que às vezes, ele se empolgava tanto que misturava as coisas e dava uma de auxiliar de policial. Coisas da época.
Certa madrugada, ele acompanhou uma equipe da Delegacia de Furtos e Roubos numa batida na Vila Bom Jesus. Os policiais buscavam um assaltante linha de frente. Perigoso.
A turma chegou ao barraco onde o cara presumivelmente estava. Uma viatura iluminou a casinha com os faróis e os policiais começaram seu trabalho.
– Saí aí de dentro, cara! E sai com as mãos pra cima!
Silêncio. Nenhum som veio em resposta, nenhuma luz se acendeu.
– Pela última vez, sai agora ou vai bala!
Ainda silêncio.
– Então tá. Tu pediu.
Engatilharam as armas e já iam para o serviço, quando Betinho inchou o peito e berrou:
– Deixa comigo!
Falou e fez. Antes que alguém conseguisse segurá-lo, engrenou uma primeira e se foi em alta velocidade, jogando se contra a porta com tudo.
Desapareceu na escuridão. Passaram-se alguns segundos. Em seguida, veio uma voz estrangulada em algum lugar do outro lado.
– Me tirem daqui!
A turma apressou-se e entrou, temendo o pior. Não tinha nada do outro lado, o barraco tinha apenas a parede frontal, a escuridão camuflava a coisa. Endereço errado. Do outro lado, no que deveriam ser os fundos da casa, havia um valão cheio de merda. E dentro dele, Betinho. Atolado na merda até o pescoço.