
Em uma dessas crises cíclicas que o Brasil enfrentou em décadas passadas, um alemão que lutou neste caça-minas da Marinha Alemã durante a I Guerra Mundial (foto) e veio para o Brasil na década de 1920, ironizava muito como nós brasileiros usamos a palavra crise por qualquer resfriadinho comum. De fato, temos esse vício. E nós jornalistas turbinamos o termo como se fosse a única notícia do mundo. Até gandula de futebol que se machuca é inserido em algum contexto de crise.
Vocês não sabem o que realmente é uma crise, dizia ele. Você nunca passaram por uma de verdade, falou ele com a experiência de quem passou os turbulentos primeiros da década de 1920, na já explosiva Alemanha e hiperinflação mais falta de alimentos.
Vocês nunca precisaram comer carne de cavalo morto e já podre; nenhum brasileiro precisou ferver sola de sapato durante horas para obter dois ou três gramas de proteína; nenhum brasileiro morreu congelado ou teve mãos ou pés amputados porque não tinha carvão para se aquecer, com temperaturas de 20 ou 30 graus centígrados negativos. Isso sim é crise, crianças.
O alemão era meu pai.