Essas soluções de cobrar a dívida ativa para dar um alívio no caixa do governo lembram um causo dos anos 1970. O dono de uma casa noturna na Zona Leste de Porto Alegre não pagava 1) contas de fornecedores; 2) bancos; 3) impostos. Esses, nem pensar. Claro que a fiscalização ia em cima diuturna e noturna, como disse uma presidente numa fala para a TV, mas quem disse que achavam o distinto?
O cidadão em tela era PhD em escafeder-se dos tentáculos do governo. Não ficava mais de cinco minutos nem no banheiro da casa dele para não dar chance do fiscal intimá-lo. Porém, e sempre tem um, certo dia, um ex-funcionário dedou o ex-patrão. Na noite do dia tal, ele faria uma ceia para clientes especiais. Ceia, como é sabido, é sempre tarde.
Designaram um fiscal durão para atacá-lo na calada da noite. Ele ficou na repartição até 22h e depois aproximou-se do estabelecimento. Surpresa, ninguém à vista, luzes apagadas, nenhuma música, portas trancadas e janelas com grossas cortinas. Nenhuma atividade. Desenxabido, o fiscal desistiu. Alarme falso.
Nem 15 minutos depois, as luzes se acenderam, algazarra, música em alto volume, gente alegre chegando e saindo. Nosso bom homem ficou sabendo meia hora antes do ataque da fiscalização, então subiu numa mesa, pediu silêncio e berrou:
– Pessoal, estamos participando de uma gincana em que uma das tarefas será encontrar meu estabelecimento em silêncio, luzes apagadas. Então vamos colaborar, todos deitados no chão em silêncio por algum tempo. A gincana é beneficente, então vamos colaborar.
Era beneficente mesmo. Para ele.