Primeiro veio “inserido no contexto”, no final dos anos 1960. Tudo era inserido no contexto, especialmente no meio intelectual e da esquerda. Tenho a vaga impressão que veio na esteira da popularização do dramaturgo Bertold Brecht. O tabloide satírico O Pasquim o converteu para a nobre arte da bandalha. Começa com os cartuns, como um do Jaguar, em que um homem dizia para uma mulher deitada nua na cama que queria “inserir no contexto” dela.
Naquele tempo, como dizia Jesus, a esquerda – inclusive a esquerda caviar – falava muito na pequeno-burguesia, classe derivada do pequeno burguês de Máximo Gorki. Um termo bem na medida, uma classe média-média metida a besta. E reacionária, ipso facto. Nada a ver com “chinelagem” de hoje.
“Veja bem” foi a que mais durou. Começou na segunda metade dos anos 1970, muito usada por executivos paulistas, depois exportada como uma espécie de abre-te Sésamo para impressionar. A gauchada adorou. Via-se bem até em atendente de supermercado. Volta e meia ela volta como o Fantasma de Canterville. E, claro, tem a abertura de uma frase com “Então…” que se baixa a voz na sílaba final.
Tudo isso me veio à mente ontem, quando estava na esteira do União vendo um programa de surfe e outros esportes radicais. Esse pessoal usa “adrenalina” cada três palavras. Subiu o morro? Aquela adrenalina. Pegou a swell? Aquela adrenalina. Entrou rápido demais na Curva do S em Interlagos? Aquela adrenalina. Gringo jogando bocha que acerta uma bochada? Não, eles nunca dizem “adrenalina”.
Um dia esses caras vão morrer de overdose de adrenalina. Se isso acontecer, os esportes radicais e os respectivos programas de TV vão desaparecer. Então…