Vou abrir com um depoimento pessoal sobre a catástrofe gaúcha que deixou Porto Alegre sem água. Além de não poder cozinhar, tomar banho e lavar pelo menos as roupas íntimas, nada é tão humilhante do que ficar dias e dias sem poder dar descarga no vaso. E não se pode apelar para parentes e vizinhos, porque estão na mesma situação.
Os fantasmas permanentes
Para os gaúchos, surgiram dois novos fantasmas de alguns anos para cá. O da seca e da enchente. Às vezes, tripla, como na Região do Vale do Taquari.
Ponha-se no lugar de quem perdeu tudo na enchente de setembro e de novembro de 2023 e agora vê tudo ir águas abaixo de novo. Uma das perninhas da centopeia evoluiu do medo para a condição de desespero.
É como um pesadelo recorrente, só que real. Penso que o avanço da depressão se deve em parte devido a essas situações.
Os prefeitos dos municípios do Vale do Taquari estão temerosos que a depressão leve a atos extremos. Há que considerar a cultura dos descendentes de alemães da região, que não contempla o fracasso mesmo que não seja causado por eles.
Listeria
Há outro componente a se preocupar, além das bactérias e vírus disseminados por alimentos deteriorados. É uma bactéria chamada Listeria, que gosta de se refugiar em reentrâncias das cortadores de frios, por exemplo.
Ao se ingerir alimento contaminado, ela se aloja sem maior alarde. Há muitas consequências, entre elas dificuldades de engravidar.
Paciência esgotada
Com os saques em lojas ontem, três enchentes em menos de um ano e vendo o sofrimento da população, uma comerciante de Arroio do Meio jogou a toalha. Vai reformar as lojas e depois vender os imóveis. Vai de muda para cidade do Litoral.
“Não aguento mais!”, desabafou. Não estará sozinha. Podemos prever um êxodo nas cidades mais atingidas.
Com mais um detalhe: além da fuga do Interior para o Litoral e outras cidades – são poucas, porque 95% dos municípios forma afetados pela enchente, mesmo em áreas altas – podemos prever fuga para outros estados, a começar por Santa Catarina.
Abre a guaiaca
O mercado segurador estima de R$ 25 bilhões a R$ 40 bilhões o volume a ser pago no Rio Grande do Sul. Ainda não se pode calcular o valor exato pelo simples fato que as águas ainda causam estragos no campo, na lavoura e nas cidades.