Final dos anos 1970. Rua Riachuelo, Centro de Porto Alegre. Estava eu a conversar com o publicitário e poeta Luiz Coronel quando se aprochega um vivente, jornalista razoavelmente conhecido. Havíamos acabado de molhar as ideias no Bar Pelotense e recém tínhamos começado a salvar o Brasil quando ele anunciou que seria candidato. Homem da noite, dos bares e das serestas, da MPB velha e nova, das madrugadas e da boemia, com raízes em cidade do Interior, foi desfiando sua contabilidade de sufrágios.
– Olhem, eu estou eleito deputado estadual. Não tem erro.
E começou a contar nos dedos.
– Só na minha cidade faço uns cinco ou seis mil votos. Na região toda, uns bons três mil, mas meu eleitorado mesmo…
Exibiu um ar triunfante. Eu e o Coronel nos entreolhamos.
-…é a gente da noite! Calculo que só com eles faço uns bons oito mil. Preciso de 14 mil para me eleger, então por baixo são 17 mil. Por baixo, hein?
Muito por cima. Na cidade e região, conseguiu mil eleitores. Na noite, e provavelmente também com a gente do dia, mal e mal deu dois mil. Tudo junto incluído, pouco mais de três mil. Nosso amigo cometeu um erro fatal na sua contabilidade.
Gente da noite costuma varar as madrugadas e ir para casa só quando o sol nasce e as urnas abrem. Despertam por volta das cinco da tarde quando as urnas já foram lacradas.