Para aferir a loucura e a frenética busca de poder e dinheiro valho-me de gabaritos de malfeitos de décadas passadas. Nos anos 1960, quando comecei a trabalhar, os sistemas de segurança contra fraudes em bancos eram mínimos, embora fosse relativamente fácil criar um depósito de dinheiro sem ser notado.

Quando soube de um golpe desse tipo no Banco onde eu trabalhava, o Província, me caiu os butiás do bolso pela simplicidade da artimanha e a falta de controles para confirmar mesmo o pagamento de uma duplicata. Foi o que aconteceu, e os autores – um chefete de seção e um capanga – foram tão primários que custei a achar que eles tivessem bolado um plano tão perfeito com arremate tão imperfeito.
Arruma um barbante aí?
Na hora de sacar a bolada, o caixa falou para o capanga que ele deveria ir à Tesouraria do banco, onde ficava o cofre forte, porque ele não tinha o que, em dinheiro de hoje, seria algo como R$ 5 milhões. Pagamento feito em Novo Hamburgo a favor de uma madeireira inexistente.
Nervoso, o rapaz pediu que colocassem o dinheiro em um pacote porque não trouxera pasta. Ora, aí começou a ficar estranho, o que levou o chefe tesoureiro a desconfiar.

Avisou o chefe de seção, que confirmou o pagamento (um simples conjunto de números com data, dia e hora). Mas veio a zebra para o golpista: a assinatura do gerente no documento de caixa que estava de férias e casualmente visitava o banco.
O cara dos 10
Esquemas grandes de negócios mal-cheirosos tinham uma comissão que dificilmente passava de 2% a 3%. Um executivo mais atrevido levou 10%, que ficou marcado a ferro na sua biografia.
Nos anos 1970, um dono de instituição ligada ao BNH me contou que bastava dar uma cesta de Natal no capricho para a secretária e outra mais pobrinha para o boy que tirava xerox e lhe fornecia uma cópia. Tempos de gatunagem romântica.
Para resumir, em poucos anos os 10% de cestas de natal tinham virado malas de dólares na faixa de dezenas de milhões. Hoje… Bem, hoje vocês sabem.
Beira vai, beira vem
O que me impressiona é a democratização da corrupção, do afano, da moral frouxa. Do grande ao pequeno, todo mundo quer levar algum.
Cândidas donas de casa dão curva em caixa de supermercado, políticos falam abertamente que querem se “arrumar” e, de fato, arrumam-se. Em suma, a maionese desandou. “Quero uma beira” é a frase mais falada.
O velho Stan
Nos anos 1960, o jornalista e compositor Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta) cunhou uma frase inesquecível: “Ou locupletemo-nos todos ou se restaure a moralidade”.
É neste ponto que me pergunto até onde essa corda estica sem se romper. Há um limite ou vamos num crescente até chegar o caos absoluto?