Entre um lamaçal e outro herdado da enchente, de vez em quando surge uma flor de boa notícia. O antigo restaurante do RS, o Gambrinus no Mercado Público, vai voltar a operar depois de uma recauchutagem e lava-jato. Essa nenhuma corte superior consegue anular.
A foto é do garçom Zezinho, o último samurai de Hulha Negra. A pose, pré-enchente, mostra que ele trabalha há tanto tempo na profissão que ficou com o cacoete de carregar a bandeja mesmo sem ela.
Arroz amargo
A trapalhada do governo federal em importar arroz de outros países para baixar o preço do nosso, justo quando os arrozeiros amargam queda de safra pelo excesso de chuvas, acaba melancolicamente. É no que dá burocrata de Brasília metido a produtor rural.
Há uma história que vivi envolvendo o arroz. Eu trabalhava para a agência Mercur, que tinha a conta do Irga, Instituto Riograndense do Arroz, que se viu às voltas com um problema.
Ao tentar entrar no mercado paulistano, o arroz gaúcho sofreu reveses. As donas de casa se queixavam que ele era empapado, porque elas colocavam a mesma quantidade de xícaras de água no arroz do sequeiro, não irrigado como o nosso. Portanto, com muita sede.
Chegamos a criar um folheto explicativo para distribuição nos supermercados. Mas sabemos todos que é difícil mudar hábitos enraizados com campanha publicitária, por melhor que ela seja.
Pé de borracha
Em conversa com contemporâneos em grupo do WhatsApp, relembramos os tempos da juventude em uma Porto Alegre que só tinha 40 mil automóveis. Ter carro dava um upgrade junto à mulherada, mesmo sabendo que se tratava de atração pessoa jurídica.
Chamávamos automóvel de pé-de-borracha. Podia ser um modelo barato. Mas a atração pela liberdade de se deslocar sem precisar de ônibus ou bonde era altíssima.
E não eram só as garotas de classes mais baixas, não. As gurias da alta também cheiravam casamento com alguém com dinheiro. Nem que fosse o do pai.
Bailes da Reitoria
Nos anos 1950 e 1960, os bailes da Reitoria da UFRGS eram aguardados com ansiedade. As meninas gostavam que fossem tiradas para dançar por acadêmicos de Medicina, em primeiro lugar, depois Odonto, Arquitetura e Engenharia. Todos cursos que davam dinheiro – em teoria.
Eu era ruim de pé, e fui a poucos. O último foi a gota d’água. Uma menina bonita de olhos azuis me encarou e lá me fui tentar não tropeçar nas próprias pernas na pista de dança.
Lá pelas tantas, ela me perguntou em que curso superior estudava. Medicina? Não, eu falei. Odonto? Também não.
Quando esgotou o repertório das profissões que, em teoria, significava um bom casamento, ela parou e me perguntou que diabo eu fazia na universidade. Jornalismo, eu disse.
Foi o mesmo que tirar um doce de boca de criança. Largou-me 30 segundos depois. Ela sabia que jornalista é pelado. Bem feito pra mim, que me dava bem mesmo nas cantadas sem exigência de diploma universitário.