Eu tenho duas horas e meia a cada dia que procuro não achar nada. É quando vou para a academia do União, esteira e musculação. Especialmente na primeira, desligo a chave geral e até o nobreak. Ficamos eu e meus fantasmas, cúmplices do silêncio. É uma hora inteira sem achar nada.
De vez em quando, um me reconhece e pergunta o que eu acho. Finjo surdez ou faço aquele abrir de braços como a dizer que não acho nada. Meus fantasmas não gostam da intromissão e alguns ficam muito ofendidos. Pedem que eu faça alguma coisa. Um dia fiz. Na segunda vez que um sujeito me perguntou o que eu achava da situação, parei a esteira.
– Amigo, desculpa, mas eu durmo achando, acordo achando, escrevo achando, vou para o jornal achando, escrevo o blog achando e só paro de achar quando o sono me acha. Então agora, nesta esteira, eu não gosto de achar nada, certo?
Contam que certa vez Millôr Fernandes foi a um coquetel meio que na obrigada. Um general o reconheceu e o abordou.
– Conta uma piada?
Millôr bebericou seu uísque.
– Dá um tiro de canhão?
[ad name=”HTML SENAR RS”]