Até hoje procuro o Santo Graal dos croquetes e dos pastéis. Em princípio, o pastel bom é o da Rodoviária do interior.
Já o croquete se divide em dois subtipos: o puro por origem (PPO), feito com carne moída bem fininha. Um bom exemplo era o da Caverna do Ratão, na Protásio Alves esquina com a Eça de Queiroz.
Este sim era perfeito. Podia-se levá-lo para casa já frito ou cru, pois não carregava herança de carnes passadas.
O segundo é o croquete Lavoisier, aquele em que nada se perde e tudo se transforma (CL). O gosto depende da matéria que já foi prima, mas não é mais. Pode ser bom ou uma droga. É a Loteria do Croquete.
O causo que se segue quem despejou nos ouvidos do jornalista Paulo Burd foi Jorge Carlos Magalhães, o Magu. Uma turma de jornalistas costumava reunir-se num boteco no Centro de Porto Alegre para beber.
E, como tira-gosto, um croquete com um tempero incrível. Um toque perfeito de sal.
A turma sempre perguntava para o bodegueiro qual o tempero. Queriam cumprimentar a cozinheira. O bodegueiro desconversava, dizia que o segredo era a alma do negócio e não deixava ninguém entrar na cozinha.
Até que, num dia, alguém do grupo fez uma sórdida manobra para desviar a atenção do dono do botequim e invadiu a cozinha para descobrir o segredo do tempero do croquete. Fazia um calor dos demônios.
Numa imensa frigideira, estavam os croquetes. À frente, um negro enorme, suando às bicas, e com um braço só. Com a mão restante tirava um punhado de carne de uma bacia, enrolava na pança suada e atirava no óleo fervente. Era o segredo do sal perfeito.
Os chineses têm um ditado, se gostas de comida chinesa não visites a cozinha. Hoje o papo é outro, a higiene cria e tira fregueses.