Search

El Chapo S.A

Na passagem do século, ou seja, há 15 anos, a Revista Time fez uma relação dos 100 homens mais importantes ou mais progressistas do século. Lendo o artigo que foi capa e teve muitas páginas, fiquei surpreso em encontrar texto e foto de Al Capone: gangster conhecido.

A revista não estava analisando se correto ou incorreto, mas o empreendedorismo e habilidade comercial. No caso do Mr. Capone, cujo Al vem de Alfonse, o que o colocou com importantes companhias foi o fato de ele ter transformado uma empresa “familiar” em uma organização gigantesca. A recente fuga de “El Chapo” de uma prisão mexicana o igualou nas manchetes.

Fiquei pensando… Faltam ainda 85 anos para o fim do século e não me surpreenderei da foto de capa ser de Joaquím Guzmán pois, se o Cartel de Sinaloa fosse uma empresa, teria mais afiliadas que qualquer companhia mexicana. Com presença em 17 estados e 54 países – mais que a América Móvil (19) e Cemex (50).

A gênese do Sinaloa remonta a serra da região que leva seu nome, onde o cultivo de ópio e maconha existe desde sempre. De Miguel Ángel Gallardo – fundador do Cartel– até Joaquín “El Chapo” Guzmán, dezenas de chefes nasceram nessas montanhas.

São os genuínos herdeiros dos contrabandistas que, nos anos 1930 e 1940, passavam a droga para o outro lado da fronteira a fim de satisfazer os consumidores americanos. São os líderes indiscutíveis do mercado dos EUA: dominam 30% do setor de cocaína e maconha, mais de 60% do de heroína, e 70%de metanfetamina. Suas vendas são estimadas em US$ 3,2 bilhões ano.

A localização geográfica é outro exemplo de visão estratégica. O Sinaloa controla ainda os cruzamentos estratégicos até os EUA (Tijuana, Juárez, Mexicali) que garantem o acesso ao seu grande mercado: a Califórnia. Veja a sua abrangência.

Desde 31 de março de 2011 – “Três membros do cartel de Sinaloa enfrentam a pena de morte na Malásia”; 3 de fevereiro de 2014 – “O avião recentemente destruído na Venezuela operava para o cartel de Sinaloa”. A lista continua. Um jornal australiano afirma que o cartel chegou a Oceania graças aos seus vínculos com a italiana N’drangheta e a japonesa Yakuza. No Canadá, conseguiram uma aliança com os Hell’s Angels.

E outra aliança fundamental: a China, ilustrada pelo misterioso caso de Zhenli Ye Gon, empresário farmacêutico chinês que se transformou no principal fornecedor ao cartel municiando-o para fabricar metanfetamina. Ele foi detido em casa com mais de US$200 milhões em dinheiro em 2007.

Seus sistemas de transporte evoluíram para túneis de alta engenharia, barcos, submarinos e uma potente frota de aviões. Os 3.185 quilômetros de fronteira com os EUA estão atravessados por mais de 170 passagens subterrâneas.

A segunda fuga de El Chapo da prisão elevou ainda mais sua fama. A ele são dedicadas canções, capuzes, camisetas e grafites. Ele virou uma marca. Uma macabra marca para uma empresa ilegal, que só nos últimos dez anos, deixaram ao menos 80 mil mortos.

Fernando Albrecht

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

Deixe sua opinião

Publicidade

Publicidade

espaço livre