Até a entrada dos tempos modernos, as práticas antigas de comportamento social até os anos 1960, não raro, obedeciam ao que hoje conhecemos como “me engana que eu gosto”. Valia inclusive e principalmente para a prostituição em Porto Alegre.
As prostitutas se dividiam em dois grandes grupos, as que “se viravam”, na gíria daquele tempo em cabarés, conhecidos como lupanares ou casas de tolerância, e as moças que exerciam a profissão nas ruas. O eufemismo para esse grupo social era “arrodear a bolsinha”.
Geralmente pendurada pelos ombros, onde elas guardavam documentos – Deus m’o livre sair sem eles!- dinheiro e a Carteira da Saúde. Esta era ferramenta de trabalho, cuja ausência poderia levar à prisão.
A Carteira da Saúde era expedida pela Secretaria da Saúde, era uma espécie de negativa de doenças venéreas ou DST. A cada 30 dias, elas eram obrigadas a comparecer nos postos de saúde e, de forma gratuita, fazer estes exames, especialmente para detectar o treponema pallidum, causador da terrível sífilis.
Era uma espécie de salvo conduto caso a polícia (Guarda Civil fardada) se encanizasse com elas. Naquela época, o controle de comportamento social (ou antissocial…) era feito por uma delegacia especializada, a Delegacia de Costumes, que além da prostituição cuidava das drogas, incipientes na época, basicamente maconha e anfetaminas como Pervirtin e Dexamil. Misturadas com álcool, deixavam o freguês sem dormir por longos períodos de tempo, hoje também conhecidos como rebite, ingeridos por alguns caminhoneiros para viagens longas nonstop.
As prostitutas de rua faziam o TROTTOIR, palavra francesa que deu origem ao “trotear”. Se uma prostituta ficasse parada atraindo fregueses era cana certa. Mas se elas troteassem nas calçadas arrodeando a bolsinha era uma prova que não exerciam a prostituição.
Isso ficou tão arraigado que, mesmo em décadas mais recentes, estas mulheres ficavam indo pra cá e pra lá. Sem nem mesmo saber porque assim faziam.
Não existiam motéis como nós conhecemos hoje. Nos cabarés havia quartos ou se buscavam pensões.
O primeiro motel de Porto Alegre foi o Marli, por isso que o viaduto Dom Pedro II na Borges esquina José de Alencar é conhecido como Viaduto da Marli. Mas essa já é outra história.