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Como nascem os traficantes

Vem aí o filme inspirado no colombiano Pablo Escobar, e quase ao mesmo tempo temos a história do El Chapo, sua fuga e o enterro apoteótico do mafioso Casamonica na Igreja de Giovanni Bosco, onde um helicóptero, apesar de proibido, jogou pétalas de rosas em baixa altura durante todo o cortejo e isto, em Roma. No Rio ou São Paulo, as autoridades libertam um traficante conhecido, que tinha 1500 quilos de um pozinho branco caríssimo. A pick-up da polícia, feita para só 1500 quilos, chegou a ficar baixinha.
Estarrecido eu parei de ler e fiquei pensando, não sei se amaríamos os personagens, mas certamente amamos a forma que Hollywood os apresenta. Sejam “Bonnie and Clyde”, seja “Um Butch Cassidy” e o “Sundance Kid”, cuja cidade Sundance eu estive e é também o nome da penitenciária antiga e tão bonita que é mostrada com orgulho. Bem, o pistoleiro “Sundance Kid” entrou e saiu tantas vezes que herdou o sobrenome do presídio “O garoto de Sundance”.
Ambos não morreram na Bolívia, só quem morreu na Argentina, ou já no Chile foi a Etta Place, como decorrência de doenças adquiridas na prostituição (provavelmente sífilis) antes da aventura na América Latina, aliás, para quem vai à Patagônia não custa ir até lá, o lugar que se chama Cholila.
Ali era a sua fazenda, que hoje pertence à família Beneton, onde criam ovelhas, fica a uns 300 quilômetros ao sul de Bariloche, a estrada não é asfaltada, portanto você precisa de um carro alto, tração em duas rodas chega. Tem muitas pedras, mas seixos de rio que não cortam pneus.
Tudo isso vale a pena, pois você estará numa belíssima estrada: a lendária Ruta 40 (citada por Bruce Chatwin e Paul Thereaux em seus livros). É bom lembrar que nos dois filmes os personagens eram ladrões pistoleiros… já no filme que vem aí, um deles brasileiro, com Wagner Moura no papel de Pablo Escobar é a “Assenção do Cartel de Mendelim”, para isto Wagner Moura estudou espanhol por cinco meses (mas dito pelos críticos colombianos, de nada adiantou) para encarar o bandido que trocou o contrabando pela produção e tráfico, tornando-se um dos homens mais ricos do planeta.
A figura de Escobar desperta sentimentos antagônicos entre os colombianos.
– Fui ao bairro Pablo Escobar, construído por ele, diz o Wagner Moura. Pablo deu 2 mil casas aos pobres que viviam em um lixão. A primeira coisa que se vê lá é uma foto dele em um muro e, ao lado, a imagem do Menino Jesus, como tivemos aqui, a 200 metros do Palácio da Polícia, um painel com o traficante local. Mas Pablo também inventou o narcoterrorismo. Ele chantageava o Estado, e as vítimas das bombas de Pablo são muitas. É por isso que ele é um personagem tão intenso, é amado por muita gente, e claro, odiado por outros:
– Quando a gente diz que o americano médio não entende o que está acontecendo, é bom dizer que o brasileiro médio também não entende. Aliás, quanto tempo demorou para o brasileiro entender o esquema de corrupção do qual muitos políticos fazem parte? Muita gente passou um tempão negando isso. Eu tenho amigos que negam o mensalão, bem, negavam… Como pode?
– É o meu primeiro papel como um vilão, mais do que de uma vítima. Eu gostei. Por que não ir ao encontro do nosso lado mais escuro? (Wagner Moura).

Fernando Albrecht

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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