Baunilha é fácil, porque é um dos cinco cheiros mais lembrados do mundo junto com terra molhada, café e rosas – esqueci o quinto. Ninguém é perfeito.
Especificamente, recordo da primeira vez que comi torta de bolacha, gelatina de framboesa com creme de leite, o queijo tipo Limburgo ou Limburguês que meu pai adorava.

Fácil de lembrar, porque ele fede para quem não gosta de queijos fortes. Até hoje o procuro e não o acho mais. O último a fabricá-lo era de Harmonia, no Vale do Caí.
Dizem que alguns queijeiros de Minas Gerais ainda o produzem. Mas, infelizmente para nós gaúchos, eles não atravessam o rio Mampituba. Nem a fronteira com o Uruguai e os queijos cremosos da Conaprole. Mercosul uma ova!
O cheiro da terra
Quando era adolescente, a mãe pedia que eu molhasse as plantas e a horta. Como me lembro da terra molhada assim que a água da mangueira despejava água.

Subia em goiabeira e lá vinha o cheiro forte desta fruta. Cheiro de torresmo, do gosto de sangria, que em alemão chamávamos de “sangari”, vinho diluído com água e açúcar.
A mostarda amarela Savora, que também não acho mais. A galinhada da mãe. E o que me traz profundas recordações, o cheiro da água do arroio Forromeco quando nele tomava banho.
Teto de lembranças
Claro que telhado de zinco é meu objeto de desejo, porque nada mais reconfortante que barulho de chuva nele. E, no inverno, tínhamos cobertor de pena de ganso, em minutos esquentava até iceberg.

Cheiro de galpão, que nós chamávamos de paiol, com vacas leiteiras, milho e palha, alfafa para os cavalos, e uma mistura de restos para os porcos, um sopão que às vezes dava vontade de tomar.
O primeiro picolé
Quando comi o primeiro picolé, chocolate e creme, me deu a sensação de queimadura na língua. Naquele tempo, geladeira era luxo, tudo vinha da cidade grande. Inclusive o gelo em barras envolto em serragem.
É outro cheiro inesquecível, porque em dias de festa se cercava barril de chope desta forma, para que ele durasse mais. Madeira é um ótimo isolante térmico.