“…mas é no item boca-livre que os enganos são monumentais”.
Uma das coisas que as pessoas comuns mais invejam nos jornalistas é a possibilidade de viajar, conhecer pessoas VIP e autoridades e, sobretudo, ter o dia-a-dia recheado de bocas-livres. Fortes emoções. Almoços, jantares e coquetéis de primeira linha, dizem os civis. Há controvérsias. Por partes: viajar a serviço é conhecer o hotel e o aeroporto do país visitado; pessoas VIP ou são inacessíveis ou são malas sem alça de primeira grandeza; autoridades idem, sem falar que não se pode mandar os distintos àquela parte quando eles dizem besteira ou enrolam. Fortes emoções são raras, a não ser que ganhar o bilhete azul seja considerada uma. É rotina sempre, ou quase sempre. Mas é no item boca-livre que os enganos são monumentais. Jornalista calejado morre de inveja quando vê alguém comer um prato de feijão, bife e batatinha frita. Para ele, só comida fashion, pratão desse tamanho todo enfeitado mas com porções microscópicas. E sem gosto. Além do que, quando não é pouca, falta. No caso de coquetéis, os veteranos já descobriram que coquetel bom é coquetel de pobre. Tem pastel, coxinha de galinha e croquete em abundância. E não precisa ir de gravata. Coquetel de rico é B.O: bonitinho mas ordinário. E o refrigerante nunca vem gelado. Então não nos inveje, cara-pálida. Você não sabe o que não está perdendo.