Uma das casas noturnas mais famosas durante pelo menos duas décadas de Porto Alegre foi a American Boate, que ficava na Voluntários da Pátria, adiante da esquina com a Santo Antônio para quem vai ao bairro. Os restos mortais da mansão ainda estavam lá da última vez que passei na rua. Virou depósito de cimento ou algo parecido.
Não era um mero cabaré. Apresentava shows internacionais até, cantores, corpo de baile, essas coisas, mesmas atrações que faziam sucesso no Rio e São Paulo e Buenos Aires. Viveu com vigor até meados dos anos 1960, quando a cultura das casas noturnas mudou.
Havia uma razão para Porto Alegre estar nesse mapa. Os aviões comerciais dos anos 1940 e 1950 nem sempre tinham autonomia para o trajeto Rio ou São Paulo-Buenos Aires direto, e portanto reabasteciam em Porto Alegre. Não raro o voo era recomeçado no dia seguinte, então os artistas aproveitavam a noite para realizar um espetáculo na capital gaúcha e faturar algum extra.
No final dos anos 1990, o carnavalesco Evandro de Castro Lima deu uma entrevista em que falou da sua temporada fazendo shows na American Boate. Falou de como eram bonitos alguns homens conhecidos da sociedade, o que gerou algum constrangimento porque ele se referia a eles de “másculos” e “lindos” para cima.
Curioso é o motivo dele ter escolhido Porto Alegre. Vindo de uma aristocrática família baiana, foi seduzido pela liberal Buenos Aires. Tudo ia bem até que Juan Domingos Perón assumiu o poder. A partir de então, os gays sofreram perseguições por um bom tempo. Saída mais próxima: Porto Alegre.