“…em regra, os bebês eram diferentes de um dia para outro – mas a mãe era a mesma”
Um grupo de amigos jogou conversa fora no Face falando sobre os bons tempos da Porto Alegre que morreu, bares, comidas, figuras folclóricas, garçons, essas coisas. Incrível o interesse que desperta falar dos tempos antigos. Até entendo, porque hoje a cidade não é amigável. Há mais tempo falei sobre as centenas de boates informais com garotas de programa que utilizam a hora do almoço para conseguir melhorar seu salário, ou sobre tipos estranhos ou patéticos, incluindo a fauna que habita o Centro Histórico. Foi um espanto. Mas isso existe? Hoje em dia? Existe. Ou, “ecziste”, como dizia seu Gutterman, um alemão judeu que frequentava o restaurante Dona Maria.
Uma dessas casas – na maioria, o dono do imóvel não sabia que quem alugava a peça ou sala não era manicure e sim cafetina, então para despejá-las era um parto. Num prédio próximo ao edifício Santa Cruz, na Andradas, um espaço com essas garotas deixava vazar para os corredores hinos religiosos.
No tempo dos camelôs que congestionavam as ruas centrais da Capital, as mulheres com nenês no colo que pediam esmolas na frente da Igreja do Rosário pagavam um “aluguel” diário para o dono da rua. Tinha um preço para manhã, tarde, com chuva e sem chuva, mais na frente do templo ou nas laterais. Em regra, os bebês eram diferentes de um dia para outro – mas a mãe era a mesma.
Na virada para 2000, quando havia dezenas de barracas de camelôs e ambulantes no entorno da Praça da Alfândega – Porto Alegre é a única cidade onde ambulante não ambula – um ex-funcionário público ganhava rios de dinheiro cuidando das barracas durante a madrugada. Na época, ele cobrava cinco reais POR NOITE. Era só ele no pedaço, status garantido por um trezoitão carga dupla. Ante a apresentação do título de propriedade, os aspirantes davam meia volta e se escafediam. Ganhava os tubos.
O melhor de tudo: sem pagar impostos.