Saiu o livro História de Bom Princípio, a antiga Picada dos Winter, do historiador Felipe Kuhn Braun (Editora Oikos). Repleto de fotos de diversas famílias da região e imagens que remontam a 1848. Também relata os duros tempos dos primeiros moradores, na maioria imigrantes alemães.
Quando eu tinha quatro para cinco anos, em 1948, quebrei a perna direita numa prensa de alfafa, em São Vendelino, onde meu pai tinha uma casa de negócios. Fui levado para o Hospital São Pedro Canísio, em Bom Princípio, que tinha poucos recursos. Lembro da viagem em um Ford 1940 do meu tio Edgar até Bom Princípio. Acordei aos berros no meio da cirurgia, imagina. Mas a imagem que tinha do hospital era o entorno do prédio, nunca tive pesadelos com a cirurgia em si.
Durante décadas nos meus sonhos recorrentes via com detalhes o terreno que cerca o hospital, que fica no alto de um morro, a estrada de chão batido, um barranco, uma fileira de árvores frondosas com uma bem menor à frente, plantadas em linha ao longo de um terreno plano que se estendia por um bom pedaço (que também fazia parte dos sonhos) e uma cerca de arame. Era algo estranho, fascinante, porque, nos sonhos, eu insistia que deviam fazer uma pista de pouso nesta parte plana.
Só que, quando eu mencionava isso aos parentes e amigos idosos de Bom princípio, diziam que não existiu esse barranco nem as árvores tais como eu as descrevia na área plana – o hospital fica em cima de um morro – e que certamente era algo que minha mente fabricou.
Ontem, quando recebi o livro do Felipe Braun, abri o livro a esmo e adivinha qual fotografia foi a primeira que vi? Como nos meus sonhos, está tudo lá. A cerca, o barranco, a árvore pequena, tudo.
Só tem um detalhe: a foto é 1931. Doze anos antes de eu nascer.