Um dos maiores ídolos foi o zoólogo e compositor paulista Paulo Vanzolini, que a plebe ignara dele talvez só lembre da música “cena de sangue na avenida São João”. Grande letrista da nossa história musical. Autor da composição que dá título a este comentário e de dezenas de músicas que me marcaram profundamente.
Eu o conheci, assim meio de relancina, numa noite da São Paulo dos anos 70. Em um bar quase pé-sujo, na Consolação. Por acaso, estava numa roda e ele conhecia um dos integrantes. Conversamos 20 minutos, se tanto. Mas não foi o papo que me marcou, foram as letras.
Foi o autor de Amor de trapo e farrapo/Tudo errado mas tão gostoso/De dar arrepio na espinha/Amor de galo de rinha/Amor de arrancar toco/Amor de louco contra louca/Ciúme e fogo nos olhos/Beijo, o fogo na boca. Samba também cantado pelos Demônios da Garoa.
Vanzolini era o Adoniran Barbosa sério, ma non troppo, como aquele da Praça Clóvis: “Minha carteira foi batida/Tinha vinte e cinco cruzeiros/E o teu retrato/vinte e cinco/Eu, francamente, achei barato.”
O que me chateia nesse mundo de trapo e farrapo é que artistas como Paulo Vanzolini são insubstituíveis. Sim, aceito que sou saudosista e garanto que, tirando as exceções de sempre, a mediocridade é uma constante, e acelerado.
Vivemos, compomos e dançamos em 140 toques. E isso é um livro ruim nos tempos atuais. Não, passo essa. Fico com o recado dele em uma das suas belezas cantadas: Quando eu for, eu vou sem pena/Pena vai ter quem ficar.