Já foi mais interessante ler jornal neste país. De alguns anos para cá, parece o Bolero de Ravel, uma peça erudita que repete a mesma estrofe musical por uma eternidade.

Tem quem goste, assim como tem quem goste de pizza de estrogonofe. Fazer o quê, eu não fiz o mundo, só vivo nele. Não tinha esse noticiário samba de uma nota só.
A dor espichada
O que salva os rapazes e moças da mídia é quando aparece uma tragédia, de preferência local. Dez mortos no incêndio de pousada em Porto Alegre é uma coisa, na China é outra.
A tragédia e a dor de quem fica deve ser levada ao máximo de tempo. Como sempre digo, a função do jornal é alarmar o povo.

Durante dias haverá suite, no jargão das redações. Depois vem o “aniversário” de um mês, um ano.
Quanto mais choro e dor, maior é a audiência nas emissoras de TV. E o povo se presta, posto que adora uma tragédia.
O amor e a janela
Certa vez, conversei com o João Amaro, irmão do falecido fundador da TAM, comandante Rolim Amaro, que era meu amigo. Estávamos indo para São Carlos, ele queria mostrar o centro de manutenção da empresa.

Durante a viagem, ele contou alguns episódios do início da TAM, incluindo um ex-parceiro de Rolim que entendeu sair da então pequena empresa de táxi-aéreo em Marília (daí a sigla, Táxi Aéreo Marília) e navegar por conta própria. Foi mal.
Casado pela segunda vez com uma mulher mais nova, assim que a grana sumiu, ela pulou fora.
– Sabe como é, gaúcho, quando a fome bate na porta, o amor pula a janela.
O João falava com os erres do interior paulista, então nada como a sabedoria cabocla.