Contam que, na metade do século passado, senhores de posses e afeitos à lida do campo de uma grande cidade da Campanha Gaúcha, quase todos casados, rompiam temporariamente com a moral e os bons costumes e dirigiam-se a um bordel, localizado a prudentes quilômetros dos limites da cidade. Como todo bordel que se prezasse naqueles tempos, os fregueses colimaram moças de vida airada da casa. Elas tinham passado com sobra no vestibular do combate de Eros.
De uma hora para outra, quando os exaustos criadores adeptos de hora-extra voltavam para a casa na cidade de madrugada, as respectivas perpétuas fechavam a cara para seus maridos logo nas primeiras horas da manhã. Mais ainda, passaram a acusar os maridos de tê-las traído com “aquele chinaredo vulgar” especializado em agradar devassos.
Quando todos os fregueses do bordel passaram a ser cobrados, a freguesia fez uma reunião de emergência para achar o infame alcaguete. Ou pelo menos assim pensaram.
Alguém da casa? Nunca, disse a ofendida dona do bordel. Aqui é tudo gente de confiança e jamais botariam seus empregos em risco.
Levou algumas semanas até cair a ficha dos fugitivos noturnos. O trecho final que levava ao bordel era puro barro. Então, a pressurosa proprietária do estabelecimento conseguiu com a prefeitura que passassem macadame nas partes mais críticas. Macadamização é um tipo de pavimento, feito com pedras moídas, obviamente inventado por um sujeito chamado McAdam.
Era bem mais barato que o asfalto. Mas tinha um sério inconveniente: a poeira levantada pelos automóveis, uma poeira que deixava os pneus brancos.
Foi então que elas somaram dois mais dois. Olhavam os pneus do carro da família e estranharam a brancura.
Perguntaram daqui e dali e descobriram de onde vinha a poeira que manchava pneu. Não tinha erro. O único trecho que fora macadamizado no município era justamente o endereço do pecado.