Estava eu perambulando por um shopping quando a atendente de um quiosque de perfumes me chamou. Não tão alto que fosse fiasco, nem tão baixo que eu não ouvisse. Ela acenava um desses papeizinhos de prova de perfume.
– O senhor deve gostar de perfumes mais fortes, falou a garota.
– Não, respondi, não faz meu gênero. Gosto daqueles que só se nota quando você deixa a roda ou depois que passa. E cítrico, algo leve como a pluma cujo voo precisa de vento sem parar, como falou o Vinicius de Moraes,
Seu rosto se iluminou. –
Mas eu tenho vários, sorriu. Ato contínuo, alcançou-me várias provas.
Engatamos a primeira na conversação. Em poucos minutos, fiquei sabendo que ela nasceu em Natal, RN. Mas veio para cá ainda criança – na realidade ainda é uma – e toca sua vida com o marido.
Tinha um quê de marotice comportada. Como todos os jovens, cheia de convicções. Não daquelas certezas burras, mas sobre a vida.
Ela acha que aqui se faz e aqui se paga – é evangélica. E que, ao fim e ao cabo, os justos serão recompensados. Há controvérsias, eu pensei mas não disse.
– O senhor é professor? Se não é, deveria ser?
– Não é a primeira vez que me perguntam isso. Não me dou bem nas forças regulares, expliquei. Meu negócio são ações pontuais ou de guerrilha de conhecimento, se assim preferirem. Não presto para ver alunos xingando professores e pais processando mestres. Sem falar que você fala A e eles entendem B.
Essa é uma tragédia humana e brasileira em especial. Como ninguém lê mais, cometemos os mesmos erros burros e asneiras.
O burro é feliz porque não sabe que é burro. Ou, em outra versão, os pseudos sábios nadam em aquários muito pequenos.
Os olhos da garota do perfume transmitiram uma ordem para seu cérebro, que a retransmite para a boca.
– Como se faz para saber isso tudo que o senhor sabe? – perguntou.
– Seja curiosa, respondi. Aprender é satisfazer a curiosidade.
Ela, então, pegou uma caneta e anotou a frase. Que bom.