Passei na frente do Colégio Rosário, onde cursei parte do Científico, e observei que uma das poucas coisas que não mudou lá pras bandas da avenida Independência foi o vetusto prédio dos Maristas. Parei na esquina, saudoso daqueles primeiros anos de 1960.
A poucos metros da esquina ficava a carrocinha do Cachorro do Rosário. Era o mais simples e o melhor que já comi na minha vida. Pão d’água, salsicha, molho comum, tomate e cebola, mais a mostarda e deu. Depois é que surgiram aqueles tijolos com trocentos temperos e entulhos.
O chafariz ainda está lá, na pracinha D.Sebastião, mas as estátuas representando os afluentes do Guaíba estão guardadas, porque seriam ou roubadas ou quebradas. O Brasil era ingênuo, você não tem ideia de como as pegadinhas eram inocentes. Hoje, seriam consideradas coisas de criança.
Certa madrugada de 1968, eu e um amigo e duas garotas passamos junto ao chafariz. Vínhamos do Bar Líder, esquina com a Barros Cassal, e levávamos as gurias para casa, na Sarmento Leite. A minha não estava lá muito afim, ficou séria o tempo todo. Logo comigo, seu? Uma das estátuas de mármore tinha os lábios entreabertos, então botávamos um cigarro aceso neles, brincadeirinha cretina que a gurizada sempre repetia. Pra quê.
A garota que estava comigo caiu de joelhos de tantos rir, ficou um tempão gargalhando e apontando para a fumacinha que saída da boca da estátua. Depois disso, ainda com lágrimas de riso, pegou meu rosto e me beijou, o primeiro de uma longa série que se prolongou madrugada adentro.
Pelo menos para uma coisa o cigarro não fez mal.