Estamos em tempos de tal desordem informativa que os grupos de WhatsApp, para ficar só nesta plataforma, prescindem de ler jornais ou sites de notícias que acabam criando realidades próprias. Muito além de abraçar e disseminar fake news.
Passou a ser uma questão sociocomportamental, cujo efeito é devastador na visão da realidade. É a história da cobra que come o próprio rabo. Vai indo, vai indo até que surge uma realidade paralela. Eventualmente, os participantes brigam entre si e amizades antigas viram inimizades novas.
Eu acompanhamo alguns (poucos) e a cada dia fico – se é que tenho esse direito – estarrecido com os desvios de assuntos tangíveis para caminhos nada a ver e elucubrações fantásticas não raro sem pé nem cabeça, mas que para os integrantes da do grupo são como uma bíblia revisitada. Decididamente, estamos de volta à bíblica Torre de Babel. Não precisa ser religioso ou crente para ler a Bíblia – o Antigo Testamento, o Novo é fajutice pura.
É preciso ter tenência para manter a sanidade nestes estranhos tempos que correm. Pois o virtual passa a ser real, e o real vira falsidade.
No caso das eleições municipais, as redes terão um mar de julgamentos e pré-julgamentos falso. De forma tal que o eleitor comum sente-se como em uma galeria de espelhos que distorcem o refletido.
A confusão gerada só interessa ao pessoal do quanto pior, melhor. Agora vem a verdadeira má notícia: o uso da Inteligência Artificial e suas ferramentas mais sinistras, como o chat GPT, que torna um analfabeto especialista em Shakespeare, mesmo nem sabendo quem foi o Bardo.
A triste realidade é que marchamos a passos largos para uma sociedade dominada pela mediocridade e sem noção. Dominada por espertalhões ou vigaristas, mas se achando malandra.
Enterro impossível
Tem dois tipos de enterrados, a memória e a vergonha na cara. Foram enterrados tão fundo que dificilmente verão novamente a luz do sol.
Já falei na frase do jornalista Ivan Lessa dos anos 1970, de 15 em 15 anos o Brasil esquece os últimos 15 anos. Hoje, os anos se transformaram em meses e semanas.
De acordo com a conveniência, até em horas. Mas em uma coisa gostaríamos de enterros: os fios elétricos. No entanto, esqueçam.
O custo estimado deste enterro é de R$ 10 milhões por quilômetro. Multipliquem o comprimento das ruas de Porto Alegre e verão que é missão impossível. Passaria de R$ 1 bilhão, custo que deveria ser arcado, pelo menos em parte, pelos clientes das concessionárias.
O que leva a outro erro comum na sociedade, que existe dinheiro grátis e que é possível ter isso sem custo. Já nem digo na implantação, mas na conta de luz.
Somos campeões em achar que dinheiro cai do céu como o alimento maná, relatado nas andanças de Moisés pelo deserto quando houve fome. Em grande parte, culpa da Carta de 1988 que só previu direitos sem deveres. A outra parte parece que é herança genética de Macunaíma “Ai que preguiça!”.
Por isso que o estudante brasileiro é ruim em Matemática. Nem sabe fazer cálculos que exigem um mínimo de abstração.