Uma boa sacada do Instituto Caldeira foi ocupar a antiga Tecidos Guayba, na entrada da cidade. Em algum momento, entrou como sócio o A.J, Renner, nosso Barão de Mauá, um empreendedor nato que cheirava progresso à distância.
Para mim, um produto desta empresa foi a Capa Tropeiro, um pala de pura lã. Rapaz, ela me salvou do frio, da chuva, e era impermeável de verdade.
Não lembro o ano em que ganhei uma, acho que no tempo em que morava em São Vendelino, segunda metade dos anos 1940. Em dias de chuva e temporal e frio de renguear cusco, lá ia eu todo pimpão ao Grupo Escolar, a 1km de distância em estrada de chão batido.
Não lembro que tipo de calçado usava. Mas era comum andar de pés descalços. Por isso se pegava muito bicho-de-pé e lombriga, curada com a hoje demonizada Ivermectina. Não havia patrulha.
Os filhos dos colonos – meu pai era comerciante – calçavam tamancos de madeira se fosse o caso, e raramente era. No caminho, comia caule do funcho, bom para dor de barriga. Ou as bergamotas ao lado da garagem do ônibus do Kurt Backes.
No embornal, a merenda. Minha mãe dava três sugestões, sempre com pão preto: banana amassada, açúcar e canela, e a minha preferida, rabanada com mel e canela.
Mas eu trocava com a merenda dos colegas, que incluía linguiça caseira. Um escambo calórico, por assim dizer.
A capa Tropeiro ficou na minha lembrança. Nos dias frios de inverno, era minha companheira, amiga e protetora. Com entradas para as mãos, aquecia corpo e alma, uma barraca quase.
Depois de ensopada, tinha um macete para secá-la mais rápido. Mas essa já é outra história.